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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A Biologia e a Visão

              

Dos Mundos Paralelos - A Biologia e a Visão


Gosto da palavra “irmão”. Trata-se de uma daqueles pedaços da língua mátria que soam aquilo que são. É fechada. Concreta. Talvez por ter como sufixo uma parte essencial do corpo humano que, aqui, enxergo como mão fechada em outra, num aperto quente e sincero. Rijo de irmandade.

Na sua versão feminina, como cabe ao universo de Vênus, as coisas são tanto mais impalpáveis quanto mais fortes. Irmã soa como imã. União através de partículas invisíveis de magnetismo idem. Dizem que existe uma razão, mas o que vemos é simplesmente a atração, partículas com vontade própria se movendo pelo espaço para junto de um ponto comum de convergência e unicidade.

A humanidade gosta de explicar as coisas como se não fosse o supra-sumo do pó que habita um grão de poeira estelar. De fato, dá um conforto danado imaginar-se como autor de descobertas e teorias cujo significado e razões jamais alcançaremos. Daí o tal magnetismo que no seu sentido emocional atinge gradações românticas que geram uma Julieta e um Romeu.

Pois é na ânsia de explicar o imponderável que surge a tentativa de se enquadrar, catalogar e definir o papel do irmão. A priori nasce-se com alguns caso os pais sejam prolíficos em constituir grandes famílias. A biologia aqui define o que e como são seus irmãos e, num ímpeto louco de controlar o caos cromossômico, a raça humana tenta tirar desse acaso uma cumplicidade compulsória e natural. Tolice.

A cumplicidade reside no ambiente do inexplicável. Acontece, encontra-se, bate-se com ela como se tropeça numa pedra da calçada ou num barranco. E, de repente, a mágica se faz num parto etéreo que envolve forças poderosas e universais tais quais as coisas magnéticas sugeridas nos livros de física. Nasce um(a) irmão(ã). É o milagre da vida sem hospital, sangue, choro e tudo aquilo que especifica a nossa natureza irracionalmente animal a todo custo escondida.

Existimos, assim, sitiados entre universos paralelos. O da biologia e o da real visão. De um lado os rituais sociais que mantém a tribo de pé e impede o canibalismo latente. De outro, o esplendor de sentir o universo trabalhando num tecido que jamais conheceremos.

O bônus é que, uma vez reconhecido e aceito, esse tecido é boa malha que aquece, acolhe, e traz recompensas e sinais da verdadeira família que devemos constituir para o nosso próprio bem.

        

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Frase do dia

    

"Não,
Não pode alcançar os astros,
Quem leva a vida de rastros,
Quem é poeira do chão..."


Salve Dalva de Oliveira!

   

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Mentes Perigosas

    

"Não negocie com o mal.
Jamais concorde, seja por pena,
chantagem ou qualquer outro
motivo, em ajudar um psicopata a
ocultar o seu verdadeiro caráter"

O texto acima é parte do livro "Mentes Perigosas", de Ana Beatriz Barbosa Silva, e traduz o principal ensinamento que tirei dessa leitura recente.





Vale a leitura. Tanto para quem já teve a infelicidade de trombar com os vários psicopatas de plantão que nos rodeiam no trabalho, nas amizades, e até no seio familiar, quanto para aqueles que não tiveram esse azar mas podem e devem se proteger.

Um anjo, daqueles que também não descuidam dos seus plantões, me recomendou o livro.

Eu passo adiante!

           

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ser Complicado

  
Ser complicado é deveras complicado. Mais ainda nos dias simplistas e rasos de hoje. Mas, na verdade, sempre foi assim.

Nos idos de 1981, no auge das inquietações dos meus 18 anos, a complicação convulsionada era regra e ensino. Escola de vida que começava a moldar o caráter de quem vos fala. E começava, também, a ensinar sobre o imponderável.

E foi na imponderabilidade que, num consultório de dentista, na última página da Revista Amiga, encontrava-se essa pérola existencialista de autoria do grande Arthur da Távola.

Arranquei a tal página, que carrego até hoje comigo. A internet possibilita a sua divulgação digital sem o papel-revista que, hoje, já se desfaz.

Que sirva para os "complicados" de hoje e de sempre:



ARTUR DA TÁVOLA

 
Artigo publicado em 01/1981

 
Um personagem interessante é o que vem sendo criado pelo ator Marco Nanini em As Três Marias, o Aluizio, aquele professor ao mesmo tempo apaixonado por asas voadoras e pela vida. O personagem tem a força de mostrar como são certas pessoas dotadas ou de uma telha a mais, ou de gotas de sensibilidade, cultura ou inteligência acima da média. Tais pessoas, embora interessantes, se tornam ora meio marginais, ora até meio chatas, porque a capacidade de ver além e adiante, de certa forma as afasta, e separa dos demais. Mais que isso, elas ameaçam. Até sem querer ameaçam. Os demais sempre se põem em guarda. Tais pessoas riquíssimas em sensibilidade são, então, chamadas pelos outros de “complicadas”.

A rigor elas são algo complicadas, porém não é a complicação o que as define: é a sensibilidade. Vendo o professor Aluizio enriquecido por essa capacidade lúdica, alegre e criativa de o ator Nanini vitaminar os personagens que representa, invadiu-me uma enorme ternura pelas pessoas chamadas de complicadas pelos demais e resolvi dizer-Ihes o que segue:

 Para quem o chama de complicado, meu amigo, e o ofende, como explicar que a complexidade é rica, significante, cheia de caminhos maravilhosos, vários dos quais bloqueados até por você mesmo, que os possui? As porteiras e os mata-burros de nossos caminhos interiores são construídos por nós mesmos.

 Não ligue, portanto, para quem cortou o melhor dos seus impulsos com a frase defensiva e humilhante: "Puxa, como você é complicado!" Quem o fez talvez esteja temendo caminhar com você pelas vias da sua criatividade interior, tão grande que o confundiria. É mesmo mais fácil escolher um só caminho e acreditar nele. Mas fácil e mais falso ... Talvez essa pessoa não esteja querendo (nem podendo) ver a força dos mundos paralelos, todos caleidoscópicos, que você tem para oferecer a quem topar a aventura de (o) (se) conhecer.

 É que as pessoas preferem a relação superficial, aquela feita do pleno conhecimento externo (e pela metade) das reações e das atitudes do outro. Isso não é relação, é controle. Quando elas dizem: "Conheço fulano como a palma da minha mão", querem é dizer que já têm o fulano na palma da mão delas e que a relação é tão superficial que podem até conhecer (ó pretensão) o parceiro.

 Quando alguém é conhecível por não ser "complicado", esse alguém fechou-se à criatividade interior; à procura de suas dimensões mais fundas, remotas regiões de seus elos biológicos, cósmicos, químicos, religiosos, celulares, atávicos, raciais, antropológicos e biográficos. O verdadeiro simples é um "complicado" que descobriu a síntese. Falando mais claro: a pessoa verdadeiramente simples é alguém que descobriu as sínteses da própria complexidade. Quando estava no caminho da simplicidade, e sofria, era chamada de "complicada".

 As pessoas preferem as relações superficiais, pois com elas não precisam se aventurar no mistério que é o outro, que somos todos e que é cada um de nós.

 É muito mais fácil transar com o conhecido do que com o desconhecido, daí essa ânsia de conhecer (saber, definir, sugar, aprisionar) o parceiro ou a parceira, como se isso fosse possível. E para evitar que a pessoa dispare por essa região maravilhosa, contraditória e criativa, a do próprio mistério, a outra vem e a congela com a ameaça: "Puxa, como você é complicado!" Aí, por medo de "ser complicado", você se mete a auto-simplificar-se, processo que ceifa com foice existencial os milagres de ternura humana, percepção, respeito, cuidado e carinho escondidos atrás e dentro de cada "complicação".

 
Complicação uma ova! Ali está (estava?) uma coisa chamada sensibilidade, capacidade de ver os vários caminhos. Não é complicação: é complexidade, riqueza.

 
Ser "complicado" é saber exatamente em que ponto e medida o outro não vai poder (jamais) perceber o que está em nós, e não se ofender com ele por isso, antes entendê-lo.

 
Ser "complicado" é guardar os tesouros de cada plano com o qual a gente se relaciona com os demais e com a vida, sabendo respeitar a intensidade, a freqüência e a faixa de onda da sintonia de cada um.

 
Ser "complicado" é ter a força para agüentar o máximo da incompreensão sem um gesto de reclamação ou azedume. E não cortar violentamente quem o fere. É não tentar explicar.

 
Ser "complicado" é saber demais e dizer de menos. É proteger as pessoas da lucidez esmagadora de uma percepção acima da média e do normal, tanta, que se complica para poupá-las das verdades que não suportarão.

 
Ser "complicado" é, de certa forma, se defender do medo que os demais sentirão (depois se transformará em ódio), quando vislumbrarem tudo (nada?) o que (não) são.

Ser "complicado" é saber-se eternamente alvo da inveja dos que simplificam para melhor oprimir e reinar. A simplificação engana porque facilita.

Ser "complicado" é ser capaz de polarizar o ódio e o amor dos que o cercam: doa ou faça sol; chova ou vente.

Ser "complicado" é amar, tanto a tantos que é parecer errado a cada um que seja amado em particular.

Ser "complicado" é aprender a privilegiar o amor e não quem ama.

Ser "complicado" não é ser atrapalhado, trapalhão, espalha brisas, borra-botas, caótico ou perdidão.

Ser "complicado" é ter tantas linhas de ação quanto as que constituem os pilares da própria vida afetiva, emocional, psicológica ou sexual.

Ser "complicado", enfim, meu jovem e assustado amigo, na opinião apressada dos outros a seu respeito, é estar aberto para o mundo, conseguindo vê-lo sem o ódio e a raiva com que se é visto, por colocar coisas inteligentes ou puras demais onde as pessoas querem menos, por comodismo, cansaço ou mesmo burrice.