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domingo, 27 de setembro de 2009

Dia sem chato

        

Parabéns ao Guilherme pela sábia, inteligente e divertida colocação.

Vale também para todos os outros tipos de chato. Saca aqueles dos "toques frutados" e "aromas amadeirados"?

Pois é!...


Guilherme Fiuza
Jornalista, é autor de Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme. Escreveu também os livros 3.000 Dias no Bunker, reportagem sobre a equipe que combateu a inflação no Brasil, e Amazônia, 20º Andar, a aventura real de uma mulher urbana na floresta tropical. Em política, foi editor de O Globo e assinou em NoMínimo um dos dez blogs mais lidos nessa área.


Com tantas datas dedicadas à conscientização dos cidadãos, só está faltando a criação de uma: o Dia Mundial Sem Chato.

Seria um feriado nacional para as cassandras de plantão. Nenhuma delas mandaria você encurtar seu banho para salvar o estoque de água doce do planeta.

No Dia Mundial Sem Chato, você ficaria a salvo da mediocridade sustentável – aquela doutrina que reduz os problemas do mundo a meia-dúzia de slogans.

Você não correria nenhum risco de ouvir que a crise financeira internacional será resolvida com um novo paradigma ecológico.

A ONU e toda a eco-burocracia ficariam proibidas, nesse dia, de divulgar papers com projeções chutadas sobre o holocausto climático em 2050.

O Greenpeace não poderia engarrafar a Avenida Paulista nem a Ponte Rio-Niterói para protestar contra os engarrafamentos.

No Dia Mundial Sem Chato, você não poderia se sentir um canalha por possuir um automóvel, nem um criminoso por não trocá-lo pelo maravilhoso transporte de massa que não existe.

Você teria, ainda, o direito de exigir dos hipócritas do apocalipse o seu patinete a jato com ar-condicionado.

Ficaria vedada qualquer equação burra que culpasse os freqüentadores de shopping centers pela fome na África.

Nessa data cívica, você seria poupado dos axiomas que criminalizam o consumo de hambúrguer, devido aos gases estufa expelidos pelas vacas durante a digestão.

Ninguém tentaria te aliciar com discursos carolas para salvar o planeta. Ao contrário: o planeta seria salvo, por um dia, do totalitarismo carola.

No Dia Mundial Sem Chato, cada vez que a palavra “sustentabilidade” fosse pronunciada, o autor da infração seria multado em dez salários-mínimos – destinados ao programa Bolsa Clichê, de salvação do idioma.

A finalidade do Bolsa Clichê seria, basicamente, erradicar os vocábulos vazios que tentam substituir a velha expressão “bom senso” por fetiches ideológicos.

Dê você também a sua contribuição para a criação do Dia Mundial Sem Chato. Vamos salvar o planeta da chantagem emocional barata.

 

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

De Riobaldo sobre Diadorim



"...Entendi aquele valor. Amizade nossa ele não queria acontecida simples, no comum, sem encalço. A amizade dele, ele me dava. E amizade dada é amor."


João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas



(Diadorim por Aldemir Martins)

Intangível


    
"As coisas assim a gente mesmo não pega nem abarca. Cabem é no brilho da noite. Aragem do sagrado. Absolutas estrelas!"

João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas
  



terça-feira, 22 de setembro de 2009

Momentos



...É que os momentos felizes não estão escondidos, nem no passado, nem no futuro...




terça-feira, 15 de setembro de 2009

Resenhando Hamlet

                  

"What a piece of work is man. How noble in reason. How infinite in faculty. In form and moving how express and admirable. In action, how like an angel. In apprehension, how like a God. The beauty of the world. The paragon of animals. And yet, to me, what is this quintessence of dust. Man delights not me..."

- from Hamlet, by William Shakespeare

Foi-me pedido, em um trabalho acadêmico, para fazer uma resenha de um entre três títulos de filme pré-determinados.

Antes de mais nada, pensei muito ao me atrever a resenhar Hamlet, um dos meus personagens favoritos e com o qual travei contato ainda muito cedo, muito jovem. Li o livro em português, me atrevi no original em inglês, passei pela versão cinematográfica do Olivier e, agora, decidi assistir à versão dirigida por Franco Zeffirelli, com um surpreendente Mel Gibson no papel-título e uma bem escolhida Glenn Close como a Rainha Gertrudes.

Não é meu objetivo, aqui, uma comparação entre essas versões. Cada uma tem seu espírito, seu tempo e seu valor artístico. Zeffirelli persegue uma linguagem mais acessível que faz inteligível para a grande massa textos clássicos e complexos desde seu “Romeu e Julieta”. E apesar de haver uma grande carga de preconceito quanto a isso junto aos puristas, palmas pela direção que torna mais palatável e possível para grande parcela da população o contato com textos e personagens tão ricos.

A partir daí, e ciente do amplo universo de resenhas já existentes sobre a obra em questão que a contam e recontam, decidi por uma dissertação mais simbólica baseada nos meus sentimentos pessoais sobre a história.

Nesse sentido, a frase reproduzida no inicio da página - do original em inglês - traduz, a meu ver, todas as nuances e descompassos que envolvem a percepção humana nessa obra. Hamlet, nesse monólogo, tece considerações sobre o ser humano. Descreve-o como a mais perfeita forma animal, obra-prima de Deus em movimento, expressão e entendimento para, logo depois, ressaltar a sua falta de importância como quinta-essência do pó.

É essa montanha russa emocional e filosófica que faz de Hamlet um dos pilares da literatura mundial e um dos papéis mais complexos de ser interpretado. Da visão do fantasma de seu pai que lhe revela ter sido assassinado pelo próprio irmão à constatação dessa traição do tio com a mãe, o processo de vingança e loucura que acomete o príncipe da Dinamarca é, ao mesmo tempo, tenebroso e sublime. Reflexo claro da definição humana proferida por ele próprio na frase inicial dessa resenha e que faz sua existência insuportável frente à tamanha lucidez.

Na sua insana busca pela vingança ele se vê aprisionado dentro de um labirinto mental e emocional que nunca o leva à atitude suprema que consumaria o seu objetivo principal. O desejo de atender o desejo do espírito do pai é cercado pela moral, pelos pensamentos e pelo intelecto que armam, o tempo todo, ciladas que o levam à espiral de loucura e sanidade que, intercaladas, constroem um texto que avança caudaloso e feroz como as corredeiras de um rio.

Sua loucura, aliás, é ferramenta e destino. Atormentado pela visão e revelações do pai morto, ele se apossa da vertente da demência para poder traçar todos os seus planos de vingança com mais liberdade. Afinal, aos loucos tudo é perdoado e nada é crível. Assim, ele pode falar o que quiser e ouvir conversas e comentários que vão montando todas as peças de seu quebra-cabeças pessoal sem ser importunado. E assim, ainda, ele acaba por se envolver de tal forma em seu plano de justiça que as fronteiras da loucura começam a se tornar por demais tênues.

Em seu caminho, da aparição fantasmagórica do velho rei ao final trágico de toda a família real, nada mais tem consistência. Sacrifica o amor de Ofélia na dúvida sobre a sua lealdade. Num ambiente cada vez mais contaminado pela falta desse sentimento e pelas intrigas incessantes, como saber que é quem? Cláudio, o rei assassino, é a deslealdade personificada. A mãe, Rainha Gertrudes, que é cúmplice e casa-se com o cunhado apenas dois meses após a morte do marido, não é símbolo algum de virtude. A falsa lealdade bajuladora de Polônio e toda a realidade nefasta do dia-a-dia da corte constroem, enfim, o cenário ideal para o questionamento sobre a índole humana e a execução da vingança a qualquer custo.

Nesse caminho, não importa mais matar ou morrer. E é essa solidez de princípios num ambiente formado de hipocrisia e falsidade que faz do príncipe vingador um personagem irresistivelmente sedutor para as platéias. A busca pela justiça, inerente a todos os seres humanos, permeia cada cena e fala da história.

O fato é que, com esse objetivo em mente, não há como voltar atrás. Loucura ou ferrenho apego ao destino lhe dado pelo pai, a trajetória do príncipe Hamlet faz com que, tal como um bobo da corte ensandecido, ele desmonte uma a uma as aparências e artimanhas ao seu redor através de textos revestidos de metáforas que traduzem duras verdades.

A morte de Ofélia afogada no rio, louca de amor e decepção, traz à tona a falta de importância de qualquer outro objetivo de Hamlet que não seja a vingança do pai. O amor, simbolizado na ingênua Ofélia, é afogado junto com a personagem uma vez que não tem lugar no processo.

Acionado o moto-contínuo da vingança, nada mais resiste. Mortes se sucedem. Hamlet mata acidentalmente Polônio, o pai de Ofélia, iniciando o processo real de loucura da sua apaixonada. A partir daí, de modo que os conchavos do rei para matar Hamlet tomam forma, os corpos caem como sinal único daquilo que restará após a vingança.

Os falsos amigos Guildenstern e Rosencrantz, Laertes, o irmão de Ofélia, a rainha-mãe, o rei nefasto e o próprio Hamlet. Todos tombam deixando um rastro trágico de sangue.

Inevitável acompanhar Hamlet sem tomar seu partido, apoiando cada atitude exacerbada e insana na sua busca por justiça. O fiel amigo Horácio, único poupado na sua sanha vingativa, honra a sua lealdade ficando ao lado do príncipe até o final. Horácio simboliza, de fato, a única espinha dorsal consistente em valores humanos numa realidade que se desfaz.

E é de posse desse simbolismo que ele ampara o amigo em seus momentos finais, quando Hamlet profere suas últimas palavras traduzindo o epitáfio perfeito da lápide que sintetiza a tormentosa jornada do príncipe da Dinamarca:

“O resto é silêncio”.
              

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Frase do dia (e de sempre)

        


"Sei lá, mil coisas..."


Pai Ubú   



            







                         

O Caminho Suave

       

Sou da época do caminho suave. Para quem não sabe, a Caminho Suave era uma cartilha, instrumento pré-histórico onde muita gente boa aprendeu o be-a-bá.

Mas não me aterei à cartilha nesse momento. Ela entra apenas como um ótimo título para esse papo. Interessante mesmo é que, quem se lembra da Caminho Suave, com certeza se lembra ainda com muito mais ímpeto e carinho da Coleção Disquinho.

Assim como a Caminho Suave nos ensinava a soletrar e os aspectos técnicos da língua e do falar, a Coleção Disquinho nos ensinava fantasia e moral. Sim. Lições de moral embrulhadas em contos infantis numa época onde o planeta ainda não havia sido devastado pela praga espúria do “politicamente correto”.

Senão, vejamos: o lobo era mal. Ponto final. O saci era preto. E preto era preto sem traumas. Na boa. A Chapeuzinho Vermelho andava por lugares ermos. E sozinha. E, como gran finale, acabava por assistir, gratificada, o caçador dar um tiro no lobo travestido de vovozinha e enfiar um facão na barriga do bicho tirando a velhinha lá de dentro. Inteirinha. Tudo preto no branco. Sem patrulhas de gênero ou de cor.

Hoje, o embotamento é que vem travestido do politicamente correto. Nada pior, mais nocivo, do que a total ausência de convicções embrulhada numa convicção sob encomenda. Para frequentar o shopping.

Esse tema veio à minha mente quando, ainda ontem, assisti em um programa de notícias da TV paga (outra evolução para quem se lembra dos controles de vertical e horizontal), uma entrevista junto a crianças do primeiro grau onde elas falavam sobre a importância da água.

Uma pequena, linda e estranha criatura dizia, toda satisfeita, que passou a controlar o tempo de banho dos pais. Havia algo de pernicioso naquela criança, algo de zumbi, de nefasto, traduzido inclusive na clara subversão do respeito relativo ao pátrio poder. A razão para tal determinismo? Porque água era um bem precioso e estava “acabando”. E que, por isso, era responsabilidade de todos a sua preservação e economia. Ela, inclusive, também fecha as torneiras que pingam. Do contrário o desastre seria iminente. Tudo tão correto. Tudo apreendido na escola.

Que bom seria se alguém tivesse a coragem de apresentar claramente para essa nova geração os fatos como são! Mas o que assistimos pacificamente é um festival infinito de irracionalidades e cegueira. A tranqüilidade vem do “politicamente correto”. E, confesso, chego às raias da loucura ao ver a expressão “correção” tão inadequadamente aplicada.

De volta para o futuro: o planeta Terra levou bilhões de anos para construir um sistema hídrico perfeito. E trata-se de um sistema fechado. Não se “cria” água. Não se “acaba” com a água. A água é exatamente a mesma desde que o mundo é mundo. E o mundo é mundo, para nós pobres entidades carboníferas prepotentes, desde que pisamos por essas paragens pela primeira vez, mesmo ele sendo mundo já bem antes.

Não, a água não está acabando, minha pequena garota tomada de infanto-ecologica histeria. Temos é gente demais no planeta. Muita gente para a mesma quantidade de água. E gente mal-educada. Poluente. E não há banho curto que dê jeito. É triste, mas é lei, ensinava minha mãe.

Entretanto, não tocamos jamais nesse assunto. Nada mais politicamente incorreto do que falar claro. Aliás, deixemos bem claro: existe algo mais patético, mais ofensivo intelectualmente do que um crédito de carbono? Como acreditar nisso? Curupira, Caipora, são mais factíveis. Mas essa garota vai comprar um assim que for possível para dormir o sono dos justos. E plantar árvores. Sim, muitas árvores para compensar o rastro deixado pelo avião na última viagem à Disney.

Criança... tome seu banho de meia hora, mas use camisinha. Desenhe na sua folha de papel e plante árvores por prazer e não por culpa. Mas, entre um desenho e outro, um send e outro para a impressora, se instrua sobre métodos anticoncepcionais.

Não há natureza de menos. Há gente demais. E o planeta não suporta. E a natureza reage. E estará exuberante assim que nos retirarmos de cena. Por bem ou por mal. Afinal, o equilíbrio ecológico não é de fora para dentro. O ser humano é o fator desequilibrado da equação do equilíbrio. Simples assim. Matemática elementar.

Mas a patrulha da correção política vai além. Grassa por paragens várias. Começamos a criar no Brasil, por exemplo, um problema de racismo que nunca tivemos nesse cenário trigueiro. Estamos fazendo o tal povo mulato e inzoneiro engolir e aprender à força sobre cotas raciais. Caminho nada suave esse.

Assistimos ainda a propagandas na TV. Todas iguais. E publicitários que debatem sobre a falta de criatividade e pasteurização da mensagem. Óbvio. Quando todos querem ser a mesma coisa, não há como o resultado ser criativo ou diferente. E, na comunicação, é importantíssimo que todos sejam politicamente corretos. Ecologicamente equilibrados.

Ah, como seria interessante, criativo e muito mais eficaz para o bem estar mundial ver uma marca de cosméticos apregoar “use nossos produtos e nós distribuiremos 10 kits contraceptivos em seu nome para o equilíbrio do planeta”! Mas preferimos a falseta das árvores.

Aliás, no segmento imobiliário da cidade de São Paulo, todos os lançamentos possuem, embutidos, bosques maravilhosos e ricos de vida natural. Se seguirmos nessa trilha, teremos muito em breve uma metrópole de parques e matas! Puro embuste.

E tudo alinhavado com a linha insossa e cinza do politicamente correto. Afinal, se não é possível tocar-se na ferida real, se são pessoas que consomem, trabalham e compram mais, e se quanto mais, melhor, dane-se a água! Troco sua culpa por uma muda de eucalipto.

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Para quem não viveu, os vinis da Coleção Disquinho eram coloridos. Como eram coloridas as suas histórias e suas lições. Totalmente incorretas para os atuais parâmetros. E como era gostoso ouvi-los! Além da já citada Chapeuzinho (com o tal lobo que fazia mingau de criancinhas), tinha a Dona Baratinha (aquela da fita no cabelo e dinheiro na caixinha, prontinha pra comprar um marido), a Branca de Neve (que dormia com sete anões), os Três Porquinhos, a Cinderela, quanta cor, enfim...

Que pena daquela garota do telejornal que tem que se contentar com um crédito de carbono!


       

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Frase do dia

     

... Uns trocam seis por meia dúzia.
Eu troquei seis por cinco delas. E mais!...