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domingo, 8 de agosto de 2010

O Oriente é Estreito



Trata-se, amigos, de um título capcioso esse.

Temos uma forma, uma prerrogativa para tudo. Palavras e verbos inclusive. E a estreiteza nos leva sempre à noção de restrição e limitação.

Mas as coisas se invertem de acordo com as coordenadas geográficas. As latitudes e longitudes culturais trazem surpresas.

Outro dia, no parque, vislumbrei uma velha senhora japonesa sentada, a ler, num banco qualquer. Tinha entre os dedos miúdos um pequeno livro dobrado de forma que sobrava apenas uma tira de papel. Compenetrada estava, com a rigidez e a solenidade pacífica naturais aos orientais. Parecia imutável e inabalável. Ficava claro que, se alguém violento a ameaçasse ali ela simplesmente faria uma reverência e se retiraria em silêncio.

Essa cena me fez pensar. A própria forma de escrever e ler em japonês denota a essência do seu povo. A escrita japonesa não possui o despudor da horizontalidade do ocidente. Não requer livros abertos e espalmados. Uma linha contém uma ideia que cabe numa tira estreita que se aconchega entre os dedos. Liga dois pontos de forma vertical. Céu e terra. Como a perfeita tradução daquele quadro que eu vislumbrava.

Aquela senhora sabia seu lugar. Ponto na terra ligado ao divino em linha estreita e direta. O que lhe cabe é o ponto na superfície onde se encontra. Não havia ímpetos de se espalhar ou ânsia de abrangência. Nada de ocupar um espaço além do necessário e do devido.

A verticalidade exige equilíbrio. E quanto mais estreita a linha maior a destreza e a delicadeza para que as coisas se mantenham e a paz se componha. A estreiteza é, nesse contexto, sinônimo de sabedoria e talento exímio frente à existência.

Não sei quanto mais aquela leitura durou. Mas entendi a força que os elementos têm quando em perfeitas sintonia e harmonia.