. . .

sábado, 2 de março de 2013

A geração da omissão

 

O importante nos tempos de hoje é parecer, e não ser.
Essa constatação se mostra inquestionável ao mesmo tempo em que nunca o patrulhamento pela subtração da individualidade crítica foi tão grande, com as redes sociais, a vanguarda da sublimação das comunicações interpessoais, vitaminando a receita.
O fato é que a idiotização da população não é mais um momento histórico, mas, sim, uma tendência com consequências previsivelmente catastróficas.
As novas gerações não leem. O saudável hábito da leitura não faz mais parte da sua educação formal ou familiar. E, consequentemente, não pensam, não conjecturam. Esses representantes legítimos do nosso futuro estão sempre conectados a algum fio de onde saem os piores produtos culturais já produzidos na história da humanidade. Exemplifico: o que é a música eletrônica senão o caos sem propósito e sensibilidade que premia a total falta de talento? E o que dizer do funk propagandeado em cadeia nacional e horário nobre? Isso para ficar apenas nas partituras musicais.
Obviamente essa não é uma colocação de extremismo radical. As exceções existem como sempre existiram em todos os momentos do homo sapiens sobre esse planeta. Entretanto, essas exceções, que sempre foram a pedra angular das grandes transformações e avanços, estão encurraladas como um organismo estranho frente a um sistema imunológico potente que só obedece à ordem de sobrevivência da estupidez.
Essas pequenas células, portanto, para sobreviver, mimetizam-se em idiotas funcionais. Nunca o silêncio foi tão mais valioso que a palavra bem empregada. Não falo aqui do silêncio inteligente, aquele de saber calar para melhor ouvir. Mas do silêncio do receio. O silêncio do tentar pertencer. O silêncio do saber-se impotente. O silêncio abafado da água que cai em terreno infértil e escaldante.
A inteligência, hoje, perturba e incomoda. Afinal, para que insistir na evolução e no pensamento se a regra vigente é a estagnação feliz?
Aldous Huxley, em seu Admirável Mundo Novo, já preconizava que a humanidade chegaria ao ponto da criminalização do questionamento. Um mundo onde todos, à custa de uma droga aplicada desde a inseminação de cada um, o Soma, aceitariam pacificamente a sua condição sem questionamentos de qualquer espécie. “Uma dose de Soma sempre funciona” era o mantra da felicidade construída artificialmente.
Inevitável o paralelo com os tempos hoje vividos. Quer um bom emprego? Não questione. Quer ser aceito? Omita. Almeja o sucesso? Não pense. A função única do indivíduo se transformou, através da castração da sua individualidade e do seu poder crítico, na pura, simples e bovina colaboração com a felicidade geral da manada, essa sim inquestionável e suprema por mais inverídica e artificialmente orquestrada.
Tempos difíceis esses nos quais nunca o ser foi tão subjugado ao parecer. E parecer, nesse caso, é definitivamente perecer.