O importante nos tempos de hoje é parecer, e não ser.
Essa constatação se mostra inquestionável ao mesmo tempo em
que nunca o patrulhamento pela subtração da individualidade crítica foi tão
grande, com as redes sociais, a vanguarda da sublimação das comunicações
interpessoais, vitaminando a receita.
O fato é que a idiotização
da população não é mais um momento histórico, mas, sim, uma tendência com
consequências previsivelmente catastróficas.
As novas gerações não leem. O saudável hábito da leitura não
faz mais parte da sua educação formal ou familiar. E, consequentemente, não
pensam, não conjecturam. Esses representantes legítimos do nosso futuro estão
sempre conectados a algum fio de onde saem os piores produtos culturais já
produzidos na história da humanidade. Exemplifico: o que é a música eletrônica
senão o caos sem propósito e sensibilidade que premia a total falta de talento?
E o que dizer do funk propagandeado em cadeia nacional e horário nobre? Isso
para ficar apenas nas partituras musicais.
Obviamente essa não é uma colocação de extremismo radical.
As exceções existem como sempre existiram em todos os momentos do homo sapiens
sobre esse planeta. Entretanto, essas exceções, que sempre foram a pedra
angular das grandes transformações e avanços, estão encurraladas como um
organismo estranho frente a um sistema imunológico potente que só obedece à
ordem de sobrevivência da estupidez.
Essas pequenas células, portanto, para sobreviver,
mimetizam-se em idiotas funcionais. Nunca o silêncio foi tão mais valioso que a
palavra bem empregada. Não falo aqui do silêncio inteligente, aquele de saber
calar para melhor ouvir. Mas do silêncio do receio. O silêncio do tentar
pertencer. O silêncio do saber-se impotente. O silêncio abafado da água que cai
em terreno infértil e escaldante.
A inteligência, hoje, perturba e incomoda. Afinal, para que insistir
na evolução e no pensamento se a regra vigente é a estagnação feliz?
Aldous Huxley, em seu Admirável
Mundo Novo, já preconizava que a humanidade chegaria ao ponto da
criminalização do questionamento. Um mundo onde todos, à custa de uma droga
aplicada desde a inseminação de cada um, o Soma,
aceitariam pacificamente a sua condição sem questionamentos de qualquer espécie.
“Uma dose de Soma sempre funciona” era
o mantra da felicidade construída artificialmente.
Inevitável o paralelo com os tempos hoje vividos. Quer um
bom emprego? Não questione. Quer ser aceito? Omita. Almeja o sucesso? Não
pense. A função única do indivíduo se transformou, através da castração da sua
individualidade e do seu poder crítico, na pura, simples e bovina colaboração
com a felicidade geral da manada, essa sim inquestionável e suprema por mais
inverídica e artificialmente orquestrada.
Tempos difíceis esses nos quais nunca o ser foi tão subjugado ao parecer.
E parecer, nesse caso, é definitivamente perecer.
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