O mar não está para peixe.
É deveras inquietante estar atento e colher sinais de distúrbios que ocorrem num grau macro e que, de tão abrangentes, acabam passando por certezas inexoráveis ou desdobramentos tão consequentes quanto inocentes do tempo e da história.
Nesses desvios da existência humana, a apatia impera e o dom de se rebelar contra absurdos se dissolve. É preocupante. Afinal, nunca antes na história desse país tivemos um governo tão alheio à moral e tão desleal à legalidade. E nos amplos espaços pátrios nada se faz, nada se comenta, nada surpreende. Inexiste o espanto. O atual presidente faz campanha descaradamente ilegal e a população, assim como a oposição, não se manifesta. É como se as coisas fossem assim mesmo, fazer o que?

O que assistimos hoje - e infelizmente distante da ficção televisiva - é o esgarçamento do tecido moral de uma população que nunca primou pela atenção e pela indignação frente às situações dissolutas. Mesmo com campanha antecipada e ilegal, a candidata desconhecida e inexperiente do atual presidente ganha votos e se aproxima de uma vitória que nos leva, lenta e gradualmente, a transformarmo-nos numa grande Venezuela. O que cega e insensivelmente não nos damos conta é que já temos todos os componentes para isso, de Lula a Garcias, de Amorins a Dirceus, entre tantos luminares desses novos tempos.
Entretanto, para não nos fixarmos no terreno pantanoso da discussão política, podemos voltar ao ambiente das ondas da televisão e analisar a mais recente edição do reality show mais popular do país, o Big Brother Brasil 10.
Antes de qualquer coisa e servindo como mais um alerta, muita gente boa, sem nenhuma razão consistente, torce o nariz para o tal programa ao mesmo tempo em que se traveste de samambaia frente aos indícios muito mais dramáticos advindos do Planalto Central. E esse é outro sinal de que as coisas não vão bem com a inteligência nacional...
Mas voltemos ao programa que nada mais é que uma eleição direta semanal que envolve boa parte do Brasil: nessa edição, o participante protegido e adorado, que caminha a passos largos para a vitória e para o prêmio de 1,5 milhão de reais, é um homem manipulador, preconceituoso, ignorante e sem nenhum pudor, escrúpulo ou caráter. E a quantidade de pessoas que se dispõem a defendê-lo, mesmo publicamente, a começar pelo diretor da programação, é o exemplo acabado da dissolução e corrosão do caráter nacional.
No país que nunca antes subornou e comprou tantos cidadãos com bolsas-para-tudo, a ausência macunaímica de caráter passou a ser a regra. E sem caráter, a estrutura moral cede tal qual edifício com alicerces corrompidos.
É. Estamos, de fato, num momento histórico tingido de cinza. São ventos tristes que trazem a angústia característica das situações onde cidadãos de bem valem muito menos que aqueles dotados de certa esperteza psicótica embasada pela teoria de que os fins justificam os meios e pessoas são apenas componentes a serem utilizados ou descartados em função desses mesmos fins.
Resta, à boa nação brasileira, a noção da precariedade da direção e da natureza dos vendavais. Os ventos vêm e vão. Sopram de cá e de acolá. Mas há sempre o prazer e a satisfação evolutiva embutidos na calmaria.
O resto, como diz a sabedora popular, é ventania.
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